Cada vez mais pessoas estão descobrindo que ganhar dinheiro com o Tesouro Direto é tão acessível quanto colocar dinheiro na caderneta de poupança. Nesta matéria publicada pela Revista Exame deste mês, você vai conhecer oito formas de escolher os títulos públicos do Tesouro Direto de acordo com os seus objetivos. Boa leitura!
“O Tesouro Direto é atualmente um dos mais poderosos instrumentos para as pessoas físicas construírem um bom patrimônio, com alta rentabilidade e risco baixo. Porém, muitos ainda têm dúvidas sobre as melhores formas de montar uma carteira de títulos públicos.
Com aquela verdadeira sopa de letrinhas que se abre na tela do investidor cadastrado em uma corretora para negociar na plataforma eletrônica do Tesouro Nacional, pode parecer difícil escolher os títulos mais adequados.
Existem diversos tipos de títulos, que atendem a diferentes objetivos. Mas é importante que o investidor tenha seus objetivos financeiros bem definidos antes de aplicar.
Os pós-fixados dividem-se em Letras Financeiras do Tesouro (LFT), cuja remuneração acompanha a taxa básica da economia, a Selic; e nas Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B) que são espécies de híbridos, pois pagam uma taxa pré-fixada, que o investidor já conhece no ato da compra, mais a inflação pelo IPCA.
Há dois tipos de NTN-B: a NTN-B “pura” paga juros a cada seis meses, possibilitando um fluxo de caixa para o investidor antes do vencimento, o chamado cupom; já a NTN-B Principal não paga cupom, devolvendo o principal e pagando os juros apenas no vencimento.
Já os títulos pré-fixados se dividem em Letras do Tesouro Nacional (LTN) que pagam uma taxa de juros pré-fixada, nominal, já conhecida pelo investidor na hora da compra; e nas Notas do Tesouro Nacional-série-F (NTN-F), que são como as LTN, mas pagam cupom a cada seis meses.
Essas diferentes formas de remuneração possibilitam ao investidor colocar em prática diversas estratégias de acordo com seus objetivos.
No Guia fácil sobre o Tesouro Direto, publicado pela plataforma de investimentos Rico.com.vc e distribuído gratuitamente para quem se cadastra no site, o consultor financeiro André Massaro descreve, de forma simples, algumas estratégias que a pessoa física pode pôr em prática sem necessariamente especular com títulos públicos.
Conheça-as a seguir e escolha qual a que melhor casa com seus objetivos:
1) Objetivos financeiros:
Massaro descreve como objetivos financeiros os propósitos de acúmulo de patrimônio – por exemplo, para comprar um carro, um imóvel ou para se aposentar – e de geração de renda – por exemplo, para uma pessoa que já está aposentada e deseja obter rendimentos para complementação de renda. As principais estratégias são:
Aumento de patrimônio
Comprar apenas títulos que não pagam cupom, isto é, NTN-F e NTN-B estão excluídas desta carteira. Isso porque ao não receber os juros semestralmente, o dinheiro que seria pago a título de cupom continua rendendo, resultando em uma rentabilidade maior.
Além disso, todo o imposto de renda é pago de uma só vez no resgate, que se for feito após dois anos, terá alíquota de apenas 15%. Não será preciso pagar IR sobre os cupons, portanto, a alíquotas maiores, no início do investimento.
O ideal é casar os vencimentos com a data em que você vai precisar do dinheiro. Assim, se você pretende poupar para a aposentadoria com o Tesouro Direto, há NTN-B com vencimento para 2035 e até em 2050.
Geração de renda
Para quem quer obter rendimentos periódicos, a dica é escolher títulos que pagam cupom, isto é, NTN-F e NTN-B.
Como o pagamento é semestral, para receber em períodos de tempo menores, o mais aconselhável é montar uma carteira de títulos de diferentes tipos e séries, para que eles paguem cupons em datas distintas e com frequência maior que de seis em seis meses.
Conforme a necessidade do investidor, as duas estratégias podem ser combinadas. Lembrando que títulos que pagam cupom sempre acabam rendendo menos que títulos para o mesmo vencimento que não pagam cupom.
2) Objetivos de rentabilidade:
Aqueles que querem potencializar a rentabilidade de seus investimentos por meio da aplicação em títulos públicos podem adotar estratégias de acordo com suas expectativas em relação à taxa Selic, uma vez que as remunerações dos títulos baseiam-se na taxa de juros atual e nas perspectivas para a Selic no futuro.
Embora tenham baixo risco de calote (por parte do governo, que é o devedor), os títulos públicos são voláteis, isto é, seu preço oscila dia a dia. A rentabilidade pela qual eles são negociados hoje só se concretizará caso o comprador os carregue até o vencimento.
Contudo, se for vendido antes do fim do prazo, o título deverá ser negociado a preço de mercado, com base na Selic e nas perspectivas para a Selic na época da venda.
Como a taxa de juros oscila, assim com as expectativas para ela, o preço de um título, até que ele vença, também varia.
Esse mecanismo, chamado de marcação a mercado, faz com que os títulos se valorizem ou desvalorizem de acordo com os diferentes cenários de taxa de juros. É esse mecanismo que permite ao investidor ganhar ou perder mais com a aposta no cenário econômico.
Quanto mais longo o título, maior a sua volatilidade, pois maior a incerteza sobre o que pode acontecer à economia até seu vencimento; pela mesma lógica, títulos que não pagam cupom são mais voláteis que aqueles que pagam, uma vez que deixam o dinheiro “preso” por mais tempo.
As principais estratégias são:
Expectativa de alta de juros
O ideal é priorizar as LFT, que são os títulos que acompanham a variação da taxa Selic. Assim, se a Selic sobe, o investidor ganha. Se a taxa cair, o investidor ganha menos.
A LFT tem a virtude de ser o título mais seguro do Tesouro Direto em termos de volatilidade. Como acompanha a Selic, é possível vendê-lo antes do vencimento com tranquilidade, sem perdas do principal e com alguma rentabilidade.
Expectativa de queda de juros
Este cenário favorece os títulos que têm parte ou a totalidade da sua remuneração pré-fixada. Ao investir em uma LTN ou em uma NTN-F, o investidor “trava” o rendimento, protegendo-se contra a queda de juros.
Por exemplo, quem comprar uma LTN que vence em 2017 hoje ganhará, no vencimento, 11,77% ao ano. Se a Selic até lá caísse a 8% ao ano, o investidor ficaria protegido dessa queda e ganharia acima da taxa básica de juros da economia na ocasião do vencimento.
Além disso, os títulos pré-fixados tendem a se valorizar conforme a Selic cai. Quem quiser poderá vendê-los antes do vencimento e embolsar um lucro em um prazo mais curto.
O mesmo fenômeno ocorre com as NTN-B e NTN-B Principal, uma vez que parte de sua remuneração é pré-fixada. Porém, como esses títulos têm prazo mais longo, também costumam ser mais voláteis – o que significa que podem gerar enormes ganhos, mas também amargas perdas.
O risco dessa estratégia é que, se os juros sobem, os títulos podem se desvalorizar na marcação a mercado, levando a perdas financeiras caso o investidor precise vendê-los antes do vencimento – principalmente no caso das NTN-B.
Expectativa de aumento da inflação
Nesse cenário, indica André Massaro, o melhor é proteger as aplicações do poder corrosivo da inflação, principalmente no que diz respeito aos investimentos de longo prazo.
Assim, os títulos mais indicados são as NTN-B e NTN-B Principal, que oferecem uma remuneração acima do IPCA, já garantindo que o dinheiro vai, pelo menos, ficar protegido contra a inflação.
O investidor deve apenas manter em mente duas coisas: a primeira é que não adianta torcer para a inflação subir para ganhar mais. Esse ganho é ilusório, uma vez que o poder de compra de uma aplicação que foi corrigida pela inflação permanece o mesmo.
O que realmente conta, nesse caso, é a remuneração que o título paga acima da inflação, a chamada taxa de juros real. Quanto maior ela for, mais “rico” o investidor ficará, de fato.
A segunda coisa que o investidor deve ter em mente é que a NTN-B é o título público mais longo e mais volátil, sendo o mais arriscado para quem precisar vendê-lo antes do vencimento.
3) Objetivos de prazo:
Algumas estratégias se propõem a combinar prazos de forma a possibilitar ao investidor poupar periodicamente por meio do Tesouro Direto. São elas:
Ladder (escada)
É a estratégia em que o investidor combina títulos com vencimentos diferentes para criar um fluxo de caixa sem precisar vender qualquer um deles antes do fim do prazo.
Dessa forma, o investidor pode tentar explorar diferentes cenários e expectativas econômicas, sem precisar realizar prejuízos por falta de recursos caso alguma das estratégias dê resultado negativo.
Se um título de longo prazo passar a oscilar negativamente, quando marcado a mercado, o investidor terá fôlego para esperar o título recuperar as perdas ou mesmo carregá-lo até o vencimento, sem perder o principal.
A estratégia de combinar títulos de curto, médio e longo prazo também é indicada para quem quer usar o Tesouro Direto para poupar para objetivos de diferentes prazos – como uma viagem no fim do ano, a compra de um imóvel em cinco anos e a aposentadoria em 20 anos.
André Massaro ressalta que no Brasil não há muitas opções de vencimentos. Portanto, para tornar seu fluxo de caixa mais regular, o investidor deve aplicar também em títulos privados de renda fixa, como CDBs e Letras de Crédito Imobiliário (LCI).
Bullet
A estratégia bullet (bala ou projétil, em inglês) consiste em adquirir títulos ao longo do tempo com um mesmo vencimento, para receber todos os valores de uma só vez no fim do prazo.
Essa estratégia é interessante para quem quer fazer poupança com títulos públicos, isto é, poupar uma quantia mensalmente durante certo tempo para a realização de um objetivo com prazo definido, como a compra de um carro ou de um imóvel.
Barbell
Trata-se de investir apenas nos títulos mais curtos e mais longos. A intenção é criar uma carteira em que os títulos de curto prazo funcionem como uma reserva de liquidez – ou seja, ao precisar de dinheiro, o investidor deve primeiro resgatar esses títulos, menos voláteis.
Já os títulos de longo prazo têm a função de fazer o patrimônio crescer, aproveitando-se da remuneração mais alta.
Um exemplo de carteira dado por André Massaro é o investimento de 30% dos recursos destinados ao Tesouro Direto em LFT de curto prazo, e 70% em uma NTN-B longa.
Essa estratégia é adequada para quem quer, por exemplo, substituir a caderneta de poupança pelo Tesouro Direto para a sua reserva de emergências e também se valer de sua alta rentabilidade e da proteção contra a inflação para poupar para a aposentadoria”.
Fonte: Exame